segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pelas vielas do mundo

Com a correria do dia-a-dia passamos por diversas situações que, na maioria das vezes não reparamos e continuamos a andar despercebidos. Uma dessas situações, que para mim é a pior de todas e creio que seja também para muitos, é a miséria. Esta penúria observada diariamente por todos os cantos do mundo choca todos os olhares que vêem essas cenas.

Porém, uma cena em especial me chocou ainda mais. O lugar era sujo, em meio a sujeiras “normais” de rua, havia também excrementos de animais e talvez até de humanos. O cheiro da água de esgoto que escoava pelas sarjetas daquela viela, era nojento e insuportável.

Após alguns minutos de caminhada me deparo com ele, Álvaro, um homem de quarenta e cinco anos com a aparência cansada, sujo e que cheirava muito mal. Álvaro era bastante conhecido nas redondezas, por ficar sempre na mesma esquina com seu fiel companheiro, Gabriel. Pelo nome de gente muitos podem pensar que Gabriel é uma pessoa, mas o nome de anjo refere-se a um cão de porte grande, pêlo curto que carrega em seu olhar um ar de tristeza, talvez pelo fato de que comer, não fosse uma rotina pra ele.

Para Álvaro, o seu cão além de ser seu companheiro de todas as horas era também seu anjo da guarda, pois era o Gabriel que vigiava seu sono, que o protegia do frio nas noites de inverno, que o defendia dos outros moradores de rua quando alguém tentava roubar seu pedaço de pão.

Entretanto, algo nesta história me intrigou, pois a história deste homem não poderia ser como a de outros moradores de rua, existia algo em seu semblante e nas roupas sujas que ele usava que me fez investigar aquele sujeito.

Certo dia, tomei coragem e resolvi ir até lá bater um papo com ele, mas não foi fácil. Álvaro era um homem de poucas palavras e percebi que precisava ganhar sua confiança. Fui lá algumas vezes apenas pra levar comida pra ele e para o Gabriel, mas teve um dia que depois de agradecer e eu já estava indo embora, ele disse que há muito tempo ninguém se importava com ele. Sentei ao seu lado, não me importando com o mal cheiro e ali ele me contou sua história.

Pude notar que por traz daquela aparência cansada, sofrida e do odor que exalava existia um homem carente e cheio de histórias pra contar. Que apesar de todas as pedras que o destino fez questão de colocar em seu caminho, restava ainda uma esperança. A esperança de voltar a ser um homem vitorioso que não precisasse mais implorar por um pedaço de pão.

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